Poesia de Cordel

sexta-feira, 20 de maio de 2011

História do Maior Poeta Repentista de Todos os Tempos, Severino Lourenço da Silva Pinto (Pinto de Monteiro).


Pinto do Monteiro nasceu em 21 de Novembro de 1895 no sítio Carnaubinha, no município de Monteiro, interior da Paraíba. Começou a cantar aos 24 anos de idade, antes de embrenhar na profissão de cantador foi vaqueiro e soldado de polícia do Estado da Paraíba. Nas suas andanças como cantador foi ganhando fama e se tornando o grande mito que até hoje permanece, sendo reconhecido como o maior cantador de todos os tempos.

Com uma inteligência colossal, junto a uma enorme capacidade de improviso e ainda uma velocidade espantosa, Pinto, como é conhecido, assombrava os cantadores que o acompanhava nas pelejas, e deixava plateias em polvorosa com respostas irreverentes e rápidas.
Pinto fez algumas parcerias memoráveis, como por exemplo, com os grandes poetas Lourival Batista e João Furiba. Percorreu o Brasil, deixando rastros de poesia e genialidade por onde passava, chegou a cantar para o presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra, sempre carregando consigo a essência do homem do sertão.

Morreu em 28 de Outubro de 1990, aos 94 anos de idade, na cidade de Monteiro, na casa de um amigo, em situação de extrema pobreza, mostrando a falta de reconhecimento de um povo que não tem idéia do gênio que era Pinto do Monteiro.



Agora vamos saborear alguns versos que foram improvisados por Pinto, nas mais diversas ocasiões, com os mais diversos cantadores.

.Aos 93 anos de idade, Pinto foi visitado pelo amigo e parceiro de profissão João Furiba, mesmo já próximo da morte mostrou porque sempre será o mito, improvisando essa sextilha:

Eu não imaginaria
Que você chegasse agora
Pra mim foi uma surpresa
Obtive uma melhora
Mas sei que vou piorar
Quando você for embora

.Certa vez cantando com o mesmo "Furiba", este criticou de forma desrespeitosa a cidade de Monteiro, Pinto que também conhecia a cidade onde "Furiba" nasceu retrucou:

Eu conheço muito bem
A sua Taquaritinga
Em cima fica uma serra
Em baixo uma caatinga
Na parte alta não chove
No pé da serra não pinga

.Noutra oportunidade, Pinto cantava com Lourival Batista, e assim improvisou:

Eu andando certo dia
Nas terras do Seridó
Tive o prazer de almoçar
Na fazenda de codó
Comi até me fartar
Da traíra o mocotó

Lourival Batista sabendo que traíra é um peixe respondeu:

Houve muitos pescadores
De Adão até Jacó
De jacó até moisés
De Moisés a Faraó
Mas nunca houve quem visse
Traíra com mocotó

Pinto, esbanjando inteligência e velocidade de raciocínio disse:

Era uma vaca cotó
Da fazenda Passira
Mataram e eu comi dela
A qual chamavam Traíra
Agora você me diga
Se é verdade ou é mentira

.Certa vez Lourival observando as vestimentas de Pinto terminou uma sextilha dizendo: "Pinto você canta muito/ E a roupa num vale nada". Pinto responde:

É verdade camarada
O que você tá dizendo
Eu costumo andar assim
Sujo e cheio de remendo
Mas ninguém diz onde passo
Pinto ficou me devendo

. Na mesma cantoria Lourival termina uma estrofe improvisando: "Meu verso é um bacamarte/ Nas mãos de um sujeito afoito". Pinto com maestria responde:

O meu é um trinta e oito
Na mão de um cabra valente
Bola cheia, cano longo
Queixa atrás, mira na frente
O queixa quebrando as balas
E as balas matando gente

.Mais adiante, Lourival termina uma estrofe dizendo: "Pinto não serve pra nada/ É pinto mas não se zanga". Pinto responde:

Pois se vire numa franga
Que eu quero pega-lo agora
Os pés sustentando o corpo
As asas fazendo escora
O bico ferrando a crista
O resto eu digo outra hora

.Furiba cantando com Pinto, faz menção a sua terra dizendo no fim de uma sextilha: "Tudo que se planta dá/ Na minha terra adorada". Pinto bombardeia:

Tua terra miserável
Só tem cupim e saúva
Teu pai morreu com cem anos
Tua mãe ficou viúva
Passou dos cento e quarenta
E nunca viu uma chuva

.Furiba certa vez terminou uma estrofe dizendo: "Deixe pra mim que só tenho/ Dezoito anos de idade". Pinto cansado das pabulagens de Furiba faz essa sextilha:

Isso aí não é verdade
Você quer ser inocente
Tem vinte anos que canta
Quinze que bebe aguardente
Trinta que engana o povo
Quarenta e cinco que mente

.Numa cantoria Furiba provoca: " Pinto velho do Monteiro/ Além de doido está cego". O gênio não deixa por menos e responde:

Ainda lhe vejo cego
Sem ganhar nenhum vintém
Pedindo esmola num beco
Onde não passe ninguém
Se passar, seja outro cego
Pedindo esmola também

.Pinto cantando sobre o exôdo rural do Nordeste fez essa bela sextilha:

Os homens do meu Nordeste
Estão desaparecidos
Nas estradas de São Paulo
Os caminhões entupidos
Conduzindo os enganados
Trazendo os arrependidos

.Cantando com Louro Branco, o gênero da cantoria chamado mourão a desafio. Pinto começa:

No mourão a tira-couro
Vou mata-lo no cacete

Louro responde:

Entro no bico do Pinto
Vou sair no "tamburete"

Pinto da o tiro de misericórdia:

Mas a coisa é diferente
Você entra como gente
Vai sair como tolete

Cantando com Furiba, este tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro, e improvisa algo elogiando o povo carioca. Pinto com a sinceridade perturbadora de sempre, improvisa:

O que eu vi na guanabra
Foi "nêgo" descendo morro
Desastre no meio da rua
Gente no pronto-socorro
Ladrão batendo carteira
Mulher puxando cachorro

Cantando com Otacílio Batista, este improvisa uma sextilha enfatisando a boca banguela de Pinto, ao que Pinto responde que ao chegar na velhice o mesmo iria acontecer com ele, Otacílio então termina uma estrofe dizendo: "Quando chegar esse tempo/ O senhor já tem morrido", Pinto despeja esse improviso por cima de Otacílio:

Mas meu espírito envolvido
Muito além da sepultura
Irá vagar pelo mundo
Somente a tua procura
Até que um dia te veja
Cantando sem dentadura

Por fim uma estrofe do trabalho escrito por Pinto, chamado: Porque deixei de cantar

Com a matéria abatida
Eu de muito longe venho
Com este espinhoso lenho
Tombando na minha vida
Tenho a lembrança esquecida
Uma rouquice ruim
A vida quase no fim
A cabeça meio tonta
Quem for novo tome conta
Cantar não é mais pra mim

5 comentários:

  1. Nenhum comentário houve
    É melhor pensar direito
    Este Pinto foi um gênio
    É digno de respeito
    Muita gente não esquece
    Sua vida foi um feito

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  2. para mim é o maior
    nao tem outro como pinto
    nas palavras dava nó
    o que eu digo eu não minto
    era o rei do improviso
    dentro de qualquer recinto

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  3. Quem nasceu com esse dom
    não precisa de esforço
    é como mulher bonita
    que já vem lindinho o rosto

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  4. RAPAZ! QUE BELO ESSE SERTÃO
    COM TANTOS MESTRES GUARDADOS
    ESCONDIDOS PELAS GROTAS
    DEVIAM SER ESTUDADOS
    NAS ESCOLAS E UNIVERSOS
    NOS ENSINOS VERSEJADOS
    ALEGRANDO OS CORAÇÕES
    DOS MENINOS ENCANTADOS!

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  5. Este Pinto se tornou galo
    Majestoso como pavão.
    Cantou as coisas mais lindas
    Do nosso querido sertão,
    Fazendo vertemos água
    Nas grotas do coração.

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