Sem sobrenome por ser filho de pai desconhecido, o maior fenômeno da cultura popular de Catingueira, nasceu aos 31 de julho, dia em que a igreja homenageia o Santo Inácio de Loiola, do ano de 1845. Sua Mãe, uma negra africana de nome Catarina, só foi batizada em 1902, pelo Bispo Dom Adauto, época em que já contava 118 anos de idade. Seu genitor, segundo alguns indicativos, era um homem branco, residente na região. Por esse motivo, há quem discorde das informações de que Inácio da Catingueira era puramente negro e sim mestiço, de cor escura mas de pele fina, cabelos corridos, conservando um pequeno cavanhaque e um bigodinho acanhado. Afirmam, que era simpático, de estatura satisfatória, olhos pretos e dispondo de uma voz forte e agradável. Seu instrumento era um pandeiro, que até hoje prevalece nas emboladas de coco, enfeitado com um laço de fita, guizos de prata de dois mil réis e tampo de couro cru, retinindo a cadência de seus versos quentes e empolgantes.
O nome em destaque nasceu no Sítio Marrecas, como escravo de Manoel Luiz de Abreu mas, também, foi cativo por herança de Francisco Fidié Rodrigues de Sousa, genro do mesmo. No inventário, Inácio da Catingueira, constou como bem, em valor de valor de 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis). Tal partilha foi procedida na residência do senhor Nicolau Lopes da Silva, filho da viúva Ana Joaquina da Silva, em 13 de fevereiro de 1875, oportunidade em que Inácio da Catingueira já contava 30 anos de idade e era considerado um imenso bem humano. No dia 22 de março, em seguida à partilha, o inventário foi homologado pelo Juiz, Dr. João Tavares de Melo Cavalcante Filho. O Histórico documento encerrou-se com distribuição das custas aos serventuários da justiça, em 21 de abril do mesmo ano.
Inácio da Catingueira, que analfabeto, teve como grande trunfo para conseguir a liberdade, o talento poético, com o qual sensibilizou o seu senhor. Não chegava a ser impedido de se ausentar da morada para qualquer viagem, por mais que demorasse e, ainda por cima, era dono de tudo o que conseguia como humildade artista.
O acontecimento que o tornou conhecido é tido também, como a maior peleja entre dois cantores já ocorrida na região. O desafiante seria outro poeta, não escravo e já afamado, conhecido por Romano da Mãe D água e tal embate se daria na cidade de Patos. Contudo, a primeira vez que se deparou, com aquele que seria um parceiro por muito tempo, registrou-se na casa de Firmino Aires, oportunidade em que se fazia acompanhar de um grupo proveniente de sua terra. O objetivo era apenas conhecer, o homem tido como grande mestre. Levando para a presença do Rei dos Cantores, empunhando o seu pandeiro, o negro saiu -se com essa:
Senhores que aqui estão
Me tirem de um engano
Me apontem com o dedo
Quem é Francisco Romano
Pois eu ando no seu piso
Já não sei a quantos anos
Surpreendido,
Romano devolveu-lhe o seguinte verso:
Senhor me diga o seu nome
Que eu quero ser sabedor
Se é solteiro ou casado
Aonde é morador
Se acaso for cativo,
diga quem é seu senhor
Sem qualquer rodeio Inácio finalizou:
Seu Romano eu sou cativo
Do senhor Mane Luiz
Sou solteiro, de palavra
Que só sustenta o que diz
Inácio da Catingueira
Sou um escravo feliz.
O célebre desafio entre os dois cantadores e que sagrou Inácio o campeão inconteste, durou oito dias, garantindo público, em Praça Pública de Patos, nas redondezas da tradicional feira, proximidades da Igreja da Conceição. A partir daí, por onde passava a dupla arregimentava verdadeiras multidões.
Inácio da Catingueira veio a falecer acometido de Pneumonia, em conseqüência de trabalhos no campo, época da queima de brocas, com pouco de trinta e três anos de idade. Seu corpo não foi sepultado na Fazenda, como de praxe faziam com os escravos. Repousa em uma Praça, no centro da cidade, a qual leva o seu nome, tendo, inclusive, uma estátua em sua homenagem. Em vida já manifestava o temor da certeza de que um dia deixaria a sua terra querida, a dedicou quase todos os temas dos seus improvisos, antecipando o espírito saudoso, em versos como este:
Tenho pena de deixar
A Serra da Catingueira
A Fazenda Bela Vista
A maior dessa ribeira
O Riacho do Poção,
As quebradas do Teixeira.
São lições como esta que conseguem ampliar, cada vez mais, a genialidade de Catingueira, mostrando que é a humildade a maior das virtudes. Passaram-se quase 123 anos da morte do fenômeno e a poeira do tempo não conseguiu sequer embaçar, na memória do povo, a lembrança de Inácio, sempre atrelada ao nome de sua terra. Foi um grande exemplo que resistiu a todas as intempéries para mostrar que a grandiosidade não está contida no que se tem, mas naquilo que se consegue como conquista do esforço próprio. Pitadas de sofrimento, determinação e coragem, como ingredientes da maior culinária humana.
eu sou crinça e sou paulista mas eu adoro poesia de cordel
ResponderExcluirmuitas crianças purai só pensão em malicia desda primeira serie ou só querem jogar video-game ou assistir tv mas eu não eu sou diferente e acho q para os pais seria muito bom se todas as crianças fossem asim ao invez de ficarem pensando besteira eles poderiam se interesar por alguma coisa a internet ou estudar e procurar aprender mais
Como conhecemos seus versos
ResponderExcluirvdd
ResponderExcluirSou baiano e cresci ouvindo do meu saudoso pai os versos dessa peleja, e no entendimento dele que também foi poeta, Ignácio sagrou-se vencedor, porem isso não é unanimidade, lendo toda a peleja, porém é fantástico reler uma obra prima feita no calor do embate, sem tempo p pensar e ter que responder em versos nessa tão alta qualidade. Romano já era eterno no repente e apartir da tida por muitos como a primeira grande peleja Ignácio ficou imortalizado. Abraços, Ticiano Félix.
ResponderExcluirsou de catingueira
ResponderExcluirViva um dos maiores repentistas que a Paraíba já produziu.
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